05/03/2017

"O cinema é uma arte de equipa."

A longa-metragem "A Floresta das Almas Perdidas" é a primeira obra neste formato realizada por José Pedro Lopes, conhecido já por ter realizado diversas curtas-metragens, e tem a sua estreia lisboeta hoje no festival FESTin, no Cinema São Jorge.

O seu criador diz-nos que este filme "é, na sua essência, um filme com muita portugalidade nos seus relacionamentos".

Conheçam aqui um pouco sobre José Pedro Lopes e "A Floresta das Almas Perdidas", nesta mini entrevista:

O realizador José Pedro Lopes e a actriz Daniela Love

Depois de diversas curtas-metragens produzidas, escritas e realizadas, chega agora a primeira longa-metragem, "A Floresta das Almas Perdidas", escrita e realizada por José Pedro Lopes. O que sentes ao ler a afirmação anterior?

José Pedro Lopes: É uma grande alegria fazer uma longa-metragem. Todos crescemos a ver longas, e foi com elas que nos apaixonamos por fazer cinema. É também uma maior entrega e compromisso com os espectadores: temos de contar uma história e fazer uma proposta que por si as faça sair de casa e ir ver. Isso é muito gratificante.
Não vejo como um feito pessoal no entanto, mas como um feito da produtora Anexo 82 na qual trabalho. Aliás, este filme é feito pela mesma equipa das curtas-metragens que fizemos nos últimos anos. O cinema é uma arte de equipa.

O género do Terror e Suspense é algo com que costumas trabalhar, como por exemplo em "Survivalismo", "M is for Macho" e agora com "A Floresta das Almas Perdidas". O que te atrai mais dentro destes géneros?

José Pedro Lopes: Eu comecei a ver filmes de terror quando era adolescente com o meu irmão, na era dos videoclubes de VHS. Éramos capazes de apanhar dois autocarros para ir ao outro lado da cidade do Porto para alugar uma fita do 'Sexta-Feira 13 Parte VII' que só havia no videoclube mais longe possível. O Fantasporto também fez a diferença - ter aquela semana anual onde podia ver filmes asiáticos e propostas estranhas que no circuito comercial não encontrava.
Apesar de serem de terror, creio que "A Floresta das Almas Perdidas" é uma proposta mais arrojada. Há ali terror, na linha do "slasher", com inspiração no cinema do John Carpenter e do Dário Argento. Mas é também uma história familiar, sobre tragédia e perda, e como sobreviver a ela. É uma reflexão sobre os valores da sociedade actual, com um lado crítico muito profundo.
Creio que a principal diferença é que não queria apenas fazer terror em "A Floresta" - o filme vai do drama à comédia, tem momentos de terror e é, na sua essência, um filme com muita portugalidade nos seus relacionamentos.

Imagem/Still de "A Floresta das Almas Perdidas"

Escreveste uma curta-metragem de Animação "Zombies4Kids", que foi nomeada a um prémio CinEuphoria. Qual foi o maior desafio de criar um filme do género de Animação em Portugal?

José Pedro Lopes: O "Zombies4Kids" começou com uma brincadeira com o Pedro Santasmarinas. Ele descobriu que eu tinha gravado uma série de músicas anti-pop onde eu cantava, uma delas chamada "Zombies para Crianças". Ele tem muito talento para desenhar mas não tinha feito curtas em animação, só imagem real. Então lá decidimos fazer uma curtinha. Foi uma excelente experiência, e passou no Indie Júnior para as escolas. As crianças de 12 anos adoraram porque afinal todas viam o "The Walking Dead".

Não é comum, actualmente, que um filme seja pensado a preto e branco, muito menos um filme do género Terror. Qual foi o motivo principal para que "A Floresta das Almas Perdidas" seja a preto e branco?

José Pedro Lopes: "A Floresta das Almas Perdidas" é um filme que cruza géneros e o faz de maneira bastante no limite. É uma história de amizade, com um lado melancólico e um lado fraternal. E, depois, cai no terror e muda de protagonistas. Essa transição abrupta do argumento tinha de ser gerida no filme e na sua estética. Não queria que o filme tivesse mudado só a linha narrativa. Daí a imagem do filme ser tão trabalhada em grandes planos e nas texturas que o preto e branco trás. Ou no ambiente sonoro opressivo constante, que visa ser uma espécie de "catedral à Dário Argento". O terror a preto e branco esteve esquecido, mas estes últimos anos tiveste alguns filmes muito bons, como o "Os Olhos da Minha Mãe" e o "Darling". É um género que ganha muito com a textura e o isolamento que o preto e branco trás às personagens.

"A Floresta das Almas Perdidas" estreou em Portugal no Fantasporto, com uma calorosa recepção a nível da crítica, e agora passa pelo FESTin, em Lisboa. Quais os planos futuros para a divulgação deste filme?

José Pedro Lopes: Foi uma grande alegria a sessão no Fantasporto. É um festival que nos é muito querido por sermos da cidade e termos crescido com ele. O público reagiu muito bem ao filme. Riram com a dinâmica dos protagonistas (o Jorge Mota e a Daniela Love trazem muito carisma à nossa história), e reagiram muito bem ao 'twist' obscuro que o filme tem a meio e ao que vem a seguir.
Acima de tudo pareceu-me que o público ficou contente por ir ver um filme português no género do terror e com uma postura tão aberta.

Imagem/Still de "A Floresta das Almas Perdidas"

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