20/02/2018

Heróis fora de Nova Iorque? Sim, existem.

Crítica: Black Panther

2018



A lufada de ar fresco 'visual' que esta 'Pantera Negra' traz ao grande ecrã era algo que a Marvel já estava a precisar, principalmente depois de tantos filmes de super-heróis que têm como cenário a cidade de Nova Iorque, e um estilo sempre muito urbano. Mas apesar da mudança de ares que podemos assistir neste "Black Panther", ficamos aquém das suas expectativas, e com um sentimento de que se podia ter explorado mais (e melhor) todo este novo ambiente e história, que os fãs de banda-desenhada tanto ansiavam.

E devo de dizer também que não é apenas no ambiente visual que temos aqui uma mudança, mas também numa presença maior de personagens femininas com um impacto importante no desenrolar das cenas, não servindo apenas para o escape amoroso da personagem principal ou outras narrativas mais secundárias (como podemos ver na imagem abaixo).

Imagem de "Black Panther"

É bastante comum vermos aqui o nosso herói rodeado de personagens femininas fortes que têm um grande peso na narrativa, quase que diminuindo por vezes a importância dada ao super-herói principal. E isto é algo de novo no mundo dentro deste género específico de filmes, contudo é uma mudança de paradigma boa e interessante.

Quanto aos pontos mais negativos, recaio na actuação de Chadwick Boseman no papel principal, que não consegue trazer muita dinâmica à sua personagem, e sendo ele o super-herói de toda a história não consegue escapar a este impacto menos positivo. A criação da narrativa do vilão também não é algo de novo, e não tem uma presença forte para a história, e poderia ter sido mais interessante.

Um destaque muito positivo vai para o restante elenco e direcção de actores, assim como a banda-sonora refrescante e moderna, que assenta que nem uma luva em todas as cenas do filme. Saímos da sala de cinema com a vontade de querer estar em Wakanda. Pode ser que na sequela essa vontade aumente ainda mais.

Mau | Meh | Bom

17/02/2018

Um amor que podia ter ido mais longe

Crítica: Chama-me Pelo Teu Nome

2017



Com um total de quatro nomeações aos Óscares, incluindo uma nomeação para Melhor Filme, este "Chama-me Pelo Teu Nome" é um filme muito italiano onde se retrata uma história romântica entre um homem e um rapaz adolescente, que sentem uma ligação forte e especial, mas que acaba por ser devorada pela situação social que os rodeia e pelas suas diferenças a nível das perspectivas que cada um tem para o seu futuro.

Apesar de ser uma história bem escrita e bem realizada, é um filme que cumpre em todos os níveis, mas que não passa disso mesmo: um filme que cumpre apenas. Ficamos com a sensação de que falta aqui um impacto maior e que não nos conseguimos interessar tanto quanto era suposto por estas personagens e pelos dramas de vida que a elas pertencem.

Seguindo, por exemplo, uma linha narrativa com diversos pontos em comum com um filme como "O Segredo de Brokeback Mountain", não consegue criar uma empatia forte, faltando aqui um elo de ligação com o público, ao contrário de 'Brokeback Mountain'.

Imagem de "Chama-me Pelo Teu Nome"

Destaca-se aqui como o ponto mais forte ao longo do filme todo o elenco que o compõe, e também se destaca uma cena em particular, onde o discurso que um pai tem com o seu filho adolescente é de uma força arrasadora, e muito bem escrito, onde cada palavra tem um impacto profundo. A nível técnico destaco também a fotografia e a banda-sonora.

Se todo o filme tivesse a força dessa cena em particular, então estaríamos perante um dos melhores filmes dos últimos anos certamente, mas infelizmente não é esse o caso. Acabamos por ter uma obra bem estruturada mas com pouca garra e que poderia ter ido bem mais longe.

Mau | Meh | Bom

15/02/2018

As várias formas humanas

Crítica: A Forma da Água
2017

Poster de "A Forma da Água"

A maldade, a bondade e o amor são palavras que podemos considerar quase como exclusivamente humanas, no entanto a forma como as expressamos varia de pessoa para pessoa, assim como a água pode ter várias formas.

O realizador Guillermo del Toro é conhecido por sempre mostrar um lado místico e fantasioso nos seus filmes, e este "A Forma da Água" não é excepção. Com uma realização muito bem executada, é nos detalhes e nas mensagens que encontramos nas entrelinhas, e numa segunda ou terceira análise sobre algumas cenas e sequências deste filme, que podemos presenciar a qualidade deste realizador e a paixão com que se dedica a cada história e ao que pretende que seja transmitido.

Aqui o que leva o espectador para um lado menos positivo é a previsibilidade do caminho que a história vai seguir, e da tentativa de juntar demasiados temas e clichés numa narrativa que simplesmente não necessita de muita coisa à mistura.

Imagem de "A Forma da Água"

Este é o filme que este ano soma o maior número de nomeações aos Óscares, num total de 13, e percebe-se em grande parte pois aqui a componente técnica destaca-se bastante pela positiva, e tem um papel principal ao longo de todo o filme, sendo que a sua execução está extremamente bem feita, desde os cenários aos efeitos especiais, fotografia, banda-sonora, etc.

Todo o elenco é também bastante competente, com destaque para a actriz Sally Hawkins, num papel não muito comum no cinema dos dias de hoje. Esta 'forma da água' é um filme muito competente, e que cumpre na mensagem que transmite, sem ser no entanto uma obra que marque pela diferença, jogando sempre pelo seguro.

Mau | Meh | Bom

10/02/2018

As estrelas não morrem só no céu

Crítica: As Estrelas Não Morrem em Liverpool
2017

Poster de "As Estrelas Não Morrem em Liverpool"

Com base em parte da vida da actriz Gloria Grahame, este é um filme que ultrapassa as barreiras do género de cinema biográfico para nos apresentar uma obra comovente que faz com que as relações amorosas e familiares sejam a base para muitas das coisas interessantes que temos na vida, e as escolhas que fazemos nesse sentido.

A actriz Annette Bening tem aqui uma interpretação fantástica, digna de diversos prémios cinematográficos, e o actor Jamie Bell também não se deixa ficar atrás. Numa relação amorosa onde o factor idade é, à primeira vista, a característica mais ressonante, é também a que menos interessa no final das contas, pois o que se destaca em todo este filme é o amor com base numa relação bastante forte.


A mensagem que aqui é transmitida é tão universal que não deixa de convencer e emocionar o público, principalmente quando nos encaminhamos mais para as cenas finais. Tenho de aqui destacar que a eficácia deste filme passa pela forma como essa mesma mensagem é transmitida, isto é, muito em parte pelo argumento mas também pela maneira como a montagem está executada.

Com o recurso a uma montagem não muito comum neste tipo de filmes, com quebras no tempo e cenas "incompletas", é dado um impacto superior à história aqui contada. Este tipo de edição poderia ser um risco falhado, mas a realização aqui cumpre o seu papel, e a montagem é sem dúvida uma mais valia.

Mau | Meh | Bom

01/02/2018

9ª Edição do FESTin começa já no final de Fevereiro


O festival FESTin 2018 arranca já no final de Fevereiro com muitos projectos portugueses e uma conexão com a Berlinale.

Decorre entre 27 de Fevereiro e 6 de Março a 9ª Edição do Festival Itinerante da Língua Portuguesa (FESTin). Como habitualmente o Cinema São Jorge, de Lisboa, será o espaço de todas as actividades do festival, que este ano apresenta entre outras novidades, muitos projectos portugueses, várias obras vindas da Berlinale e uma parceria com o grupo Guiões.

A produção cultural lusófona é o eixo central da programação, que apresentará em Competição 9 longas-metragens de ficção, 9 documentários e 16 curtas. Secções dedicadas ao cinema brasileiro e uma novíssima que estende a programação aos países de línguas derivadas do latim, completam a programação cinematográfica. Ao todo, sete obras tiveram antestreia mundial ou internacional nos festivais de Sundance, Roterdão e, principalmente, Berlim.

A participação portuguesa na Competição de longas de ficção inclui quatro projectos. O produtor Fernando Vendrell foi buscar à obra de Vergílio Ferreira a inspiração para o seu novo trabalho como realizador, “Aparição”, que reúne Jaime Freitas e Vitória Guerra no elenco para narrar a história de um romance numa asfixiante Évora dos anos 50.

Vazante” é uma co-produção com a Ukbar estreada no Festival de Berlim e mergulha com o brilho da fotografia e da direcção de arte nos meandros da escravatura no Brasil – com um forte tom social impresso pela cineasta Daniela Thomas, colaborada habitual de Walter Salles.

Já “Praça Paris”, co-financiado pela Fado Filmes e com apoio do ICA, desloca-se para o universo contemporâneo e apresenta Joana de Verona a viver uma psicóloga imersa na realidade das favelas do Rio de Janeiro, com realização de Lúcia Murat. “Uma Vida Sublime”, do cineasta independente Luís Diogo, propõe um romance com elementos de “thriller”.

Conexão com os grandes festivais internacionais

Em relação ao Brasil, o FESTin deste ano logrou reunir a produção do país que fez parte do circuito dos grandes festivais internacionais em 2017. Estreado em Sundance “Não Devore o meu Coração”, de Felipe Bragança, trás uma mistura de fantasias indígenas com a situação bem real dos crimes cometidos contra eles na fronteira do Brasil com o Paraguai. Com Cauã Raymomd no elenco.

A obra também foi seleccionada para o Festival de Berlim, plataforma de lançamento de vários projectos desta edição. Pela secção Panorama passou “Como Nossos Pais”, obra escolhida para abrir o FESTin 2018. Com um forte acento feminino, trás um drama intenso e repleto de reviravoltas sobre relações familiares e distinções de género ainda culturalmente relevantes. O filme também terá distribuição em Portugal e contará com a presença da realizadora Laís Bodansky na sessão de abertura.

Já Fabio Meira viu o seu trabalho de estreia, “As Duas Irenes”, estrear na Generations no certame alemão; o filme encerra o FESTin com uma delicada história sobre amizade e expectativas adolescentes. Pela mesma secção passou “A Mulher do Pai”, onde Cristiane Oliveira narra os sonhos e desesperos típicos de uma jovem asfixiada pelos limites de uma pequena localidade no sul do Brasil.

Completam a Competição os filmes “Açúcar”, actualmente a ter estreia internacional em Roterdão, festival em andamento, e “Redemoinho”, um dos mais belos filmes a chegar às salas no Brasil em 2017.

Mostra Latim - A língua em movimento

Expandindo o âmbito da sua programação, o FESTin lança-se em torno do idioma ancestral do português, o Latim – seleccionando uma série de obras vindas de países com língua neolatina. Será o caso da Espanha, Cuba,  França, Itália e Roménia. E, pela primeira vez em Portugal, um filme que representa o Vaticano: "O Menor Exército do Mundo" foi o vencedor do Festival de Veneza para Melhor Documentário.

Sotaques da lusofonia

Fazendo eco da sua vocação primária de único representante da produção cinematográfica de países com ligações a Portugal, o FESTin apresenta na Competição de Documentários e na sessão especial Sotaques, obras de Angola, Cabo Verde, Moçambique, Timor-Leste, Guiné-Bissau, Guiné-Equatorial – com destaque para “Serviçais – Das Memórias à Identidade”, em Competição, onde Nilton Medeiros apresenta um duro retrato de um sistema de trabalhos forçados há muito desaparecido, mas que ainda hoje tem ramificações no mundo do trabalho em São Tomé e Príncipe.

A parceria Guiões

Uma das grandes novidades do FESTin deste ano é a parceria com a 4ª Edição do “Guiões – Festival de Roteiros de Língua Portuguesa”, que irá decorrer no âmbito do festival entre os dias 2, 3 e 4 de Março. O evento promove um encontro entre guionistas/roteiristas da indústria cinematográfica de Língua Portuguesa e serve como plataforma de escrita e promoções de pitchings, sessões de filmes, debates com representantes da indústria, workshops, masterclasses e premiação de autores vencedores.

Parceria com o Lusophone Film Festival

Dentro do carácter itinerante do FESTin a parceria com o Lusophone Film Fest leva a diversidade da produção em língua portuguesa a vários lugares do mundo – incluindo sessões em Nairóbi (Quénia), Zanzibar (Tanzânia), Bangkok (Tailândia), Sydney (Austrália), Phnom Penh (Camboja) e Macau (China).