29/01/2019

DocLisboa no Museu do Oriente em Fevereiro


O Museu do Oriente associa-se ao DocLisboa e apresenta, todos os domingos de Fevereiro - dias 3, 10, 17 e 24, às 17h00, cinco filmes directamente relacionados com as grandes transformações geopolíticas da modernidade. A entrada é livre e todas as sessões serão apresentadas por programadores do Doclisboa, seguindo-se uma conversa com o público.

Em estreia nacional, “City of Jade” (Midi Z, Taiwan/Birmânia, 2016, 99’), no dia 3 de Fevereiro, centra-se na história pessoal do realizador Midi Z. Quando tinha apenas cinco anos, o seu irmão mais velho, então com 16, abandonou a família. Surgiram rumores de que haveria encontrado tesouros na mítica “Cidade do Jade”. Só o voltou a ver anos depois, afinal um homem pobre e viciado em ópio. Anos passaram, o realizador sai da escola de cinema em Taiwan, e o irmão é libertado da prisão de Mandalay. Fraco, mas ainda agarrado à esperança de encontrar uma grande pedra de jade e ficar rico do dia para a noite, decide voltar para as minas, como inúmeros outros no estado de Kachin, na fronteira da Birmânia com a China, um lugar devastado pela guerra. Midi Z seguiu-o. Este é um lugar onde heróis, aventureiros e almas desesperadas vivem, escavam, e buscam o jade, perseguidos pelos militares, doentes de malária, com o ópio como consolo na sua furiosa busca do grande tesouro.

The Great North Korean Picture Show” (James Leong e Lynn Lee, Singapura, 2012, 93’) é apresentado no dia 10 e retrata o poder da indústria cinematográfica norte-coreana, uma ferramenta crucial na maquinaria de propaganda do regime. Pela primeira vez, realizadores estrangeiros puderam entrar na única escola de cinema do país - uma instituição de elite, onde jovens talentos são treinados para criar obras, não apenas para entreter, mas para ajudar a moldar a psique de uma nação inteira, construindo assim, pelo cinema, a auto-representação de um país e de um povo.

A 17 de Fevereiro o Museu do Oriente apresenta uma dupla sessão com “Ismyrna” e “Dis-Moi”. “Ismyrna” (Joana Hadjithomas e Khalil Joreige, Líbano/França/EAU, 2016, 50’) é sobre a história de Joana Hadjithomas e da poetisa Etel Adnan, que se conheceram há 15 anos. Rapidamente se tornaram próximas, pela partilha de uma cidade onde nunca estiveram: Esmirna, na Turquia. As suas histórias pessoais, as imagens que possuem e as remetem para esse lugar de um passado seu, mas onde nunca estiveram, dão-nos o pano de fundo para as mudanças na região após a queda do Império Otomano. “Dis-Moi” (Chantal Akerman, França, 1982, 45’) é um documentário realizado no quadro de uma série de televisão sobre avós. A realizadora visita três mulheres idosas de ascendência judia e pede-lhes que lhe falem das suas avós. Sentadas nas suas salas de estar, filmadas em planos fixos, um mundo inteiro desaparecido em campos de concentração regressa à vida nas suas palavras.

No último domingo do mês, “Once I Entered a Garden” (Avi Mograbi, França/Israel/Suíça, 2012, 97’) fantasia um Velho Médio Oriente, em que as comunidades não se dividiam étnica ou religiosamente, em que nem as fronteiras metafóricas tinham lugar. Na aventura conjunta de Ali e Avi, na viagem que empreendem às próprias histórias partilhadas, o Médio Oriente de outrora - aquele em que podiam coexistir sem esforço - ressurge facilmente.

Da emigração para novos ‘El Dorado’, à construção de um país simbólico através de uma indústria de cinema, das cidades de pertença onde nunca se foi, às memórias de lugares que já não podem ser encontrados, esta programação centra-se em filmes que nascem de um duplo movimento: a transmissão de histórias, mitos e desejos, associada à territorialidade e à imaginação, através do cinema.

Programa:

3 Fevereiro

CITY OF JADE
Midi Z, Taiwan/Birmânia, 2016, 99’

10 Fevereiro

THE GREAT NORTH KOREAN PICTURE SHOW
James Leong e Lynn Lee, Singapura, 2012, 93’

17 Fevereiro

ISMYRNA
Joana Hadjithomas e Khalil Joreige, Líbano/França/EAU, 2016, 50’

DIS-MOI
Chantal Akerman, França, 1982, 45’

24 Fevereiro

ONCE I ENTERED A GARDEN
Avi Mograbi, França/Israel/Suíça, 2012, 97’

13/12/2018

Um Transformer sem Michael Bay

Crítica: Bumblebee

2018



Para quem já se encontra familiarizado com a saga "Transformers", o nome Bumblebee diz-lhe qualquer coisa, mas o contrário já não. Bom, este Bumblebee é um dos transformers que ficou mais conhecido da saga, tendo ganho o direito a ter o seu próprio filme e talvez a sua própria saga (que os estúdios agradeciam com certeza).

E como seria de esperar, se este Bumblebee é um robô transformer, então vão existir muitas sequências de acção com metal contra metal, explosões, mísseis e muito barulho à mistura. Há isto tudo, mas não em demasia. Aqui o realizador não é Michael Bay. Mas apesar da tentativa clara de se afastar das explosões em demasia, este Bumblebee não consegue deixar de se entregar aos mais variados clichés hollywoodescos.

Imagem de "Bumblebee"

Pode-se dizer até que a personagem principal não é Bumblebee mas sim Charlie Watson, a companheira e 'dona' deste robô muito sentimental, interpretada por Hailee Steinfeld. A componente técnica aqui consegue sobressair pela positiva, mas a componente humana nem por isso, sendo que todo o elenco cumpre o seu papel de forma muito banal, sem algum momento que se possa destacar. O argumento previsível e demasiado americanizado também não ajuda obviamente.

Bumblebee cumpre o objectivo de entreter o público e de, possivelmente, trazer muitos lucros para os seus estúdios, mas não mais do que isso.

Mau | Meh | Bom

30/11/2018

"Pedro e Inês" é o filme português mais visto de 2018 (para já)


A longa-metragem "Pedro e Inês" realizada por António Ferreira, numa adaptação do romance ‘A Trança de Inês’ de Rosa Lobato de Faria, é actualmente o filme português mais visto em 2018 tendo ultrapassado a marca dos 45,5 mil espectadores.

"Pedro e Inês", que estreou nos cinemas nacionais a 18 de Outubro, é protagonizado pelos actores Diogo Amaral e Joana de Verona (na fotografia acima), e é inspirado na lenda de Pedro e Inês, narrando esta inigualável história de paixão ao longo de três épocas: na Idade Média onde tudo originalmente aconteceu, no tempo actual onde Pedro e Inês são arquitectos numa grande cidade e, num futuro distópico, onde as pessoas fogem das cidades para o campo para sobreviver. Pedro e Inês sempre se encontram e se apaixonam perdidamente, ao longo dos tempos, imortalizando a mais gloriosa história de amor portuguesa.

O filme foi rodado no verão de 2017 em quatro concelhos do distrito de Coimbra (Cantanhede, Montemor-o-Velho, Lousã e Coimbra). No elenco figuram ainda nomes como Vera Kolodzig, Cristóvão Campos, Custódia Gallego, Miguel Borges, João Lagarto e Miguel Monteiro. O filme teve a sua estreia mundial na competição do Festival de Montreal, tendo já passado pelas competições da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, Festival do Rio e no Festival Caminhos do Cinema Português que decorreu em Novembro.

O filme já tem estreia marcada em 2019 nas salas do Brasil e França, países co-produtores. O realizador António Ferreira estreou-se em Cannes com a média-metragem "Respirar debaixo d'água" (2000). "Pedro e Inês" é a terceira longa-metragem do realizador, após ter realizado "Esquece tudo o que te disse" (2002) e "Embargo" (2010), sendo este último uma adaptação do conto homónimo de José Saramago.

28/11/2018

Parceria entre a PLOT e o IndieLisboa está de regresso em 2019


O PLOT – Professional Script Lab está de regresso para uma edição em 2019, novamente em parceria com o IndieLisboa.

O laboratório irá acontecer entre 2 e 4 de Maio, em Lisboa, e irá contribuir para que projectos de longa-metragem de ficção de todo o mundo possam aprimorar os seus atributos narrativos e estimular a voz criativa dos respectivos autores.

Os participantes do laboratório terão também a oportunidade de apresentar os projectos a um painel de agentes decisores da cena cinematográfica internacional, acompanhar o programa do festival IndieLisboa e de participar em Masterclasses exclusivas. As candidaturas estão abertas até 20 de Dezembro.

Toda a informação está disponível em: www.plotscriptlab.com/apply

26/11/2018

Um filme esmagador

Crítica: Cafarnaum

2018



Este é, sem dúvida alguma para mim, um dos melhores filmes dos últimos anos e, infelizmente, um dos filmes mais tristes e realistas, em que o ser humano deveria envergonhar-se somente pelo facto de este filme existir. Deveríamos todos viver num mundo onde histórias como esta nem passariam pela cabeça de ninguém que pudessem existir.

Eu próprio gostaria de não ter de escrever sobre um filme como este, mas a verdade é que filmes como este existem e são necessários, mesmo que choquem e deixem o público constrangido. A realidade é em parte feia e tem coisas horríveis.

Mas o que sobressai nesta narrativa não é somente todo o ambiente sujo e a desgraça de certas famílias e populações, mas sim a inteligência e instinto de sobrevivência de uma criança que tem uma garra e força incríveis, para além de uma coragem assombrosa que toca qualquer pessoa. Conseguimos perceber isso quando vemos essa mesma criança a processar os seus próprios pais porque estes não a deviam ter tido, isso mesmo. Porque não tinham as condições para a criar.

Imagem do filme "Cafarnaum"

Aplaudo também toda a equipa por trás deste filme, com destaque a todos, desde a realização, à fotografia, passando pela cenografia, actores, produção, enfim, nota-se que toda a equipa deu o seu melhor e conseguiu criar um ambiente e uma envolvência que são esmagadores e que mantêm-se coerentes ao longo de todo o filme.

Esta é uma obra indispensável e que merece todo e qualquer prémio e/ou menções, pois num mundo onde a maioria dos filmes que chegam às salas de cinema não conseguem trazer realidade humana para o ecrã, ou têm muito pouca, Cafarnaum destaca-se a milhas.

Mau | Meh | Bom

07/11/2018

Um artista único

Crítica: Bohemian Rhapsody

2018



Já é do conhecimento comum que quando um artista chega a um nível elevado de fama e reconhecimento a nível mundial, como é o caso dos Queen e de Freddie Mercury, é inevitável haverem mil e uma teorias sobre as suas vidas pessoais, histórias contadas e recontadas de diversas formas e feitios, contudo uma coisa é sempre certa e transversal: o seu talento.

Neste filme conseguimos ter uma percepção geral sobre a vida e carreira de Freddie Mercury, de uma forma muito 'politicamente correcta', contudo é um filme que tenta apenas apresentar os pontos principais e relevantes, nunca indo a certos pormenores ou períodos específicos, e ao tentar apresentar uma visão geral consegue fazê-lo e apresenta ao público um filme interessante.

Rami Malek numa cena de "Bohemian Rhapsody"

Já seria também de esperar que todo o filme recaia em muito na personagem principal e na performance do actor Rami Malek (da série "Mr. Robot"). Isso é verdade, e o actor está mais que à altura deste desafio, e tem aqui uma actuação muito bem trabalhada e está de parabéns. Não me espantaria nada que daqui saia uma nomeação para Melhor Actor na próxima cerimónia dos Óscares.

No final das contas temos um filme biográfico que consegue entreter e mostrar de forma pouco pretensiosa como funciona uma parte dos bastidores do mundo da música e da fama, situações às quais a maioria das pessoas não se encontra exposta e provavelmente nunca estará. Um filme interessante que não se destina apenas aos fãs de Queen.

Mau | Meh | Bom

29/10/2018

Quem vence a batalha nas bilheteiras? Marvel ou DC?



Vamos soltar já aqui a bomba, em forma de números que nos mostram quem, de facto, consegue atrair mais fãs de BD ao cinema, e tentaremos analisar o porquê destes mesmos números, se existem personagens e super-heróis que suscitam maior interesse ou menos, e se o marketing tem um peso forte, entre outros factores.

Top 10 das adaptações de BD com maiores rendimentos de bilheteiras no mundo (valores em biliões de dólares):

1 - Avengers: Infinity War - 2,046
2 - Marvel's The Avengers - 1,518
3 - Avengers: Age of Ultron - 1,405
4 - Black Panther - 1,346
5 - Iron Man 3 - 1,214
6 - Captain America: Civil War - 1,153
7 - The Dark Knight Rises - 1,084
8 - The Dark Knight - 1,004
9 - Spider-Man 3 - 0,890
10 - Spider-Man: Homecoming - 0,880

Ah pois é, parece que esta guerra tem sido ganha com uma valente margem ao longo dos anos pela Marvel! É também surpreendente que a DC apenas tenha 2 filmes neste Top 10, sendo ambos do mesmo franchise, e o último estreado em 2012 (The Dark Knight Rises).

Muitos pensarão, então e onde estão filmes da DC mais recentes como Batman VS Superman, Wonder Woman ou Justice League? Alguns destes títulos foram sucessos de bilheteiras, nomeadamente Wonder Woman, mas um sucesso muito focado nos EUA, e não esquecer que estamos aqui a falar de valores mundiais.

O facto de todo o Top 3 pertencer à Marvel, e mais precisamente ao franchise dos "Avengers", faz-me acreditar que, por um lado, não só os filmes com equipas de super-heróis conseguem chamar mais a atenção do público e levar mais espectadores às salas e, por outro lado, não o conseguem sem uma boa estratégia de lançamento e de 'build-up' para conseguirem atingir números de receitas brutais. E digo isto também pela falta neste Top do filme da rival DC que segue esta linha de equipas de super-heróis, Justice League (ou mesmo Suicide Squad).

Um dos motivos que penso estar por detrás destes números, é o facto de que os lançamentos dos filmes individuais dos super-heróis da Marvel terem sido realizados de forma espaçada, mesmo com mais ou menos sucesso, e aquando da chegada do primeiro Avengers ao grande ecrã, já o público estava familiarizado com a maioria das personagens, e não se sentiu que fosse um lançamento 'à pressa'.

Já no caso da Justice League, por exemplo, o filme foi lançado no mesmo ano que Wonder Woman (não havendo muito tempo/espaço entre o lançamento de ambos os filmes) e anteriormente o público ainda não tinha sequer um filme recente a solo da maioria dos membros da equipa como Cyborg, Aquaman, Flash, e nem mesmo um filme a solo do novo Batman, com Ben Affleck como protagonista. Também não ajuda nada à festa o facto de nenhum desses filmes a solo da DC estarem representados neste Top, estando somente dois filmes da saga Batman do realizador Christopher Nolan.

Claro que tudo isto não passa somente da minha opinião e teoria, sendo que existem outros factores que contribuem para estas diferenças, como o ambiente cinematográfico que foi sendo desenvolvido na Marvel (mais colorido, leve e divertido) em oposto com o da DC (mais 'dark' e sério), o que influenciará sem dúvida o público com todos os materiais promocionais que são lançados.

E daqui para a frente, como será? A Marvel irá certamente continuar a apostar nos seus títulos 'vencedores' (Avengers, Black Panther) assim como investir em novas adaptações, por forma a ver quais serão os novos heróis 'galinhas dos ovos de ouro' que podem criar. Quanto à DC, julgo que terá de rever a forma como investirá em novas adaptações, na forma como traz novos heróis da BD para o Cinema, e também como consegue gerir os seus filmes mais recentes, apostando sem dúvida nos que tiveram mais sucesso e tentar arranjar a sua própria 'fórmula de sucesso'.