Num formato de mini-entrevista, fomos fazer cinco perguntas ao realizador e produtor português Fernando Vendrell, que irá apresentar o seu mais recente filme "Aparição" no festival FESTin, a decorrer presentemente no Cinema São Jorge (Lisboa):
Qual foi o principal motivo que o levou a adaptar, nos dias de hoje, uma obra de Vergílio Ferreira para o cinema?
"Aparição" era um projeto que a produtora David & Golias desenvolvia desde 2005, trata-se de uma das obras mais relevantes da literatura portuguesa do século XX e um momento seminal na carreira do escritor Vergílio Ferreira. Como realizador procurei explorar as razões que nos anos 50 fizeram Vergílio Ferreira escrever este livro, para melhor tratar esta história decidi partir para Évora e filmar os temas e as atmosferas desse momento criativo. Considero as questões levantadas neste romance sobre a vida, a paixão e a morte como sendo temas verdadeiramente cinematográficos e suscetíveis de emocionar os espectadores de cinema.
Hoje em dia, entre o trabalho em Televisão e Cinema, onde sente que existe uma maior liberdade de produção em Portugal?
O tema “liberdade de produção” é algo irreal em qualquer país do mundo, no entanto acho que devo assumir essa pretensão ideal como autor/realizador e também através do trabalho criativo de produtor em Portugal. O facto de trabalhar um modelo de cinema narrativo artístico faz com que alguns projetos meus se possam enquadrar em programação televisiva, tornando-se produções viáveis enquanto séries de ficção, proporcionando uma maior liberdade temática e conceptual na minha obra de realização. Faço uma distinção objetiva nestes dois trabalhos criativos, mas considero que são complementares e que me obrigam a aperfeiçoar - técnica e artisticamente - o trabalho de realizador, aprofundando também o contacto entre mim e os espectadores.
Mais de 10 anos se passaram desde que realizou a sua última curta-metragem. Pretende voltar a realizar filmes neste formato?
Sim, claro que tenciono realizar outros projetos de curta-metragem. Durante esses 10 anos, muito duros e violentos, concorri sempre a todos os concursos do ICA, julgo que um número “significativo” de pessoas constituídas como jurados, não acharam relevante a minha obra de realizador. Durante esse período de “ausência” segui o conselho de grandes cineastas com quem privei e trabalhei, que jamais esquecerei: “Nunca desistir, persistir sempre!”.
Cerca de 20 anos se passaram entre "Fintar o Destino" (1998) e "Aparição" (2018). Quais os desafios actuais de realizar uma longa-metragem?
As possibilidades técnicas de produção de cinema democratizaram-se com o incremento do digital, há mais produção no “media” cinema e também mais perspectivas de circulação dos filmes. No entanto, o trabalho numa longa metragem de cinema é muito exigente, necessita de uma profunda reflexão formal, uma abstração que a aproxime do pensamento humano. Nem sempre as nossas obras estão em “sintonia” com o mercado, quer sejam os festivais de cinema ou a exibição comercial, o espaço para que uma obra cinematográfica seja fruída, parece ser cada vez mais exíguo e reduzido em contraponto com o da vulgarização tecnológica do audiovisual.
Aos 8 anos não conseguiu ir ao cinema ver "O Inimigo Público" de Woody Allen. Já conseguiu concretizar esse desejo? E se já o fez, o que achou do filme?
É uma vergonha, nunca vi esse filme até hoje... No entanto lembro-me visualmente de várias cenas desse filme, imaginadas a partir do que me contaram as minhas irmãs e os amigos que assistiram a essa sessão no dia do meu aniversário. Parece-me ainda interessante!
Bastidores das filmagens de "Aparição" |
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