26/03/2018

Uma Maria pouco Maria-Rapaz

Crítica: Maria Madalena

2018


Poster de "Maria Madalena"

Oh não, outro filme religioso? Pois, parece que sim. Ah, mas este traz uma perspectiva feminina e isso muda tudo, não? Pois, parece que infelizmente não. É verdade que o foco aqui é a personagem de Maria Madalena, e a sua perspectiva e papel em toda a história, mas essa história já foi mais que contada e vista, e aqui temos mais do mesmo.

As actuações e a realização cumprem aqui o seu trabalho, mas não deixam de ser peças monótonas para uma narrativa já muito divulgada, não trazendo aqui algo de diferente e desafiador, que faça com que o público fique emocionado ou deslumbrado.

Imagem de "Maria Madalena"

Tecnicamente é um filme decente, o que já seria de esperar para um filme mainstream deste tipo, no entanto destaca-se o trabalho de fotografia que consegue criar um ambiente muito próprio e coerente ao longo do filme, em que ficamos realmente deslumbrados com certas imagens e planos.

Este é um filme religioso típico, para um público religioso, mas que acredito plenamente que nem a esse público conseguirá deslumbrar ou entusiasmar, como fez o filme "A Paixão de Cristo" de Mel Gibson, por exemplo. Poderia-se ter arriscado muito mais aqui.

Mau | Meh | Bom

08/03/2018

“Redemoinho” vence competição do FESTin


O filme de José Luiz Villamarim sobre dois amigos que se reencontram após um acontecimento trágico na infância foi escolhido pelo Júri como o Melhor Filme do FESTin 2018, enquanto que o cineasta foi escolhido também como o Melhor Realizador.

Já o prémio do Júri da Crítica foi para “Açúcar”, de Renata Pinheiro e Sérgio Oliveira, com uma Menção Honrosa para “Mulher do Pai”.

O público escolheu distinguir “Como Nossos Pais”, de Laís Bodanzky, obra que estreia comercialmente em Portugal no dia 15 de Março.

Os restantes prémios para as longas-metragens de ficção couberam a Grace Passô (Melhor Actriz por “Praça Paris”, co-produção da Fado Filmes, também com estreia prevista para o circuito comercial), e  Marat Descartes (Melhor Actor por “Mulher do Pai”).

Na categoria Melhor Documentário a distinção do Júri  coube a “Saudade”, de Paulo Caldas e a curta-metragem “A Gis”, de Thiago Carvalhaes.

Segue abaixo a lista completa dos premiados da 9ª Edição do FESTin:

Categoria de Longa-metragem:

Melhor Longa-metragem:
“Redemoinho” de José Villamarim

Melhor Realizador: José Villamarim por “Redemoinho”

Melhor Actriz: Grace Passô por “Praça Paris”

Melhor Actor: Marat Descartes por “Mulher do Pai”

Melhor Filme – Júri da Crítica:
“Açúcar” de Renata Pinheiro e Sérgio Oliveira

Menção Honrosa de Longa-metragem - Júri da crítica:
“Mulher do pai” de Cristiane Oliveira

Melhor Filme – Júri Popular:
“Como nossos pais” de Laís Bodanzky

Categoria de Curta-metragem:

Melhor curta-metragem:
“A gis” de Thiago Carvalhaes

Menção Honrosa de curta-metragem:
“África na Europa” de Atcho Express e “Carga” de Luis Campos

Melhor curta-metragem – Júri Popular:
“Hospital da memória” de Pedro Paula de Andrade

Categoria Documentário:

Melhor Documentário:
“Saudade” de Paulo Caldas

Menção Honrosa de Documentário:
“Serviçais das memórias à identidade” de Nilton Medeiros

Melhor Documentário – Júri Popular:
“Serviçais das memórias à identidade” de Nilton Medeiros

Categoria Infanto-Juvenil:

Melhor Filme – Júri Popular Infantil:
“Como surgiram as estrelas” de Renato Barbieri e Adriana Meirelles

05/03/2018

5 perguntas ao actor Jaime Freitas...


Num formato de mini-entrevista, fomos fazer cinco perguntas ao actor português Jaime Freitas, protagonista do filme "Aparição", que vai ser hoje apresentado no festival FESTin, a decorrer presentemente no Cinema São Jorge (Lisboa):

Qual foi a sensação de ter sido Alberto Soares durante as filmagens de "Aparição"?

Durante a preparação, depois de ter lido o livro, e lido uma data de coisas à volta do universo de Vergílio Ferreira, houve uma grande ansiedade nesse período, sobretudo por saber que ia estar em todas as cenas do filme. Uma grande responsabilidade. Mas à medida que a data do primeiro dia de rodagem se aproximava, a ansiedade ia desaparecendo até que quando ouvi o primeiro "Acção!" do primeiro plano, a ansiedade desapareceu por completo. Acho que teve muito que ver por me identificar com o Alberto. Sempre senti na minha vida pessoal uma certa procura de sentido. Até porque não me sinto associado a nenhuma ideologia política, social ou religiosa. Sinto-me sozinho nessa procura.

Como descreve a forma de trabalhar e realizar de Fernando Vendrell?

Deliciosa. Ele foi muito cuidadoso comigo. É uma pessoa com quem dá vontade de estar a trabalhar. Foi como uma dádiva ele ter-me dado esta oportunidade. Ele passava um sentimento de confiança para me fazer sentir seguro. E tem umas gargalhadas contagiantes. Foi fácil de trabalhar com ele.

Entre o trabalho de realizador, escritor e actor, ultimamente tem apostado mais na carreira de actor. Porquê?

Porque descobri, depois de muitas inseguranças e medos, que podia ser bom nisto. E descobri que é o que me dá mais prazer e satisfação.

No futuro gostaria de trabalhar mais em Televisão, Cinema ou Teatro?

Qualquer coisa. Mas gosto muito do jogo com a câmara.

Entre borbulhas grandes na cara de outros actores e cenas em eléctricos, que outras curiosidades mais caricatas nos pode revelar da sua carreira?

Uma vez, quando estava nos Estados Unidos a estudar, fui com uns amigos fazer uma figuração à borla num filme independente que entrava o Vincent D'Onofrio. Fomos pela experiência, conhecer gente... Esperamos numa cave fria de um banco abandonado durante onze horas. Entretanto vão-nos chamando. Juntaram-nos lá em cima na zona onde era o tal banco e olharam para nós para escolher alguém para fazer uma cena com o Vincent. Escolheram-me e estava excitadíssimo por estar a fazer um plano que começava com ele e comigo. O homem que fez o Full Metal Jacket do Stanley Kubrick.

Jaime Freitas em "Aparição"

Vencedores dos Óscares 2018


Fica aqui com a lista completa de todos os vencedores da 90ª Edição dos Óscares, os prémios mais importantes da indústria do cinema:

Melhor Filme
"Chama-me Pelo Teu Nome"
"A Hora Mais Negra"
"Dunkirk"
"Foge"
"Lady Bird"
"Linha Fantasma"
"The Post" 
"A Forma da Água" - VENCEDOR
"Três Cartazes à Beira da Estrada"

Melhor Realização
Christopher Nolan - "Dunkirk"
Jordan Peele - "Foge"
Greta Gerwig - "Lady Bird"
Paul Thomas Anderson - "Linha Fantasma"
Guillermo del Toro - "A Forma da Água" - VENCEDOR

Melhor Actor Principal
Timothée Chamalet – “Chama-me Pelo Teu Nome” 
Daniel Day-Lewis – “Linha Fantasma”
Daniel Kaluuya – “Foge”
Gary Oldman – “A Hora Mais Negra” - VENCEDOR
Denzel Washington – “Roman J. Israel, Esq.”

Melhor Actriz Principal
Sally Hawkins - "A Forma da Água"
Frances McDormand - "Três Cartazes à Beira da Estrada" - VENCEDORA
Meryl Streep - "The Post"
Margot Robbie - "Eu, Tonya"
Saoirse Ronan - "Lady Bird"

Melhor Actor Secundário
Willem Dafoe – “The Florida Project”  
Woody Harrelson – “Três Cartazes à Beira da Estrada”
Richard Jenkins – “A Forma da Água”
Christopher Plummer – “Todo o Dinheiro do Mundo”
Sam Rockwell - “Três Cartazes à Beira da Estrada” - VENCEDOR

Melhor Actriz Secundária
Mary J. Blige – “Mudbound - As Lamas do Mississipi”
Allison Janney – “Eu, Tonya” - VENCEDORA
Lesley Manville – “Linha Fantasma”
Laurie Metcalf – “Lady Bird”
Octavia Spencer – “A Forma da Água”

Melhor Argumento Original
Amor de Improviso
Foge - VENCEDOR
Lady Bird
A Forma da Água
Três Cartazes à Beira da Estrada

Melhor Argumento Adaptado
Chama-me Pelo Teu Nome - VENCEDOR
Um Desastre de Artista
Logan
Jogo da Alta-Rodada
Mudbound - As Lamas do Mississipi

Melhor Fotografia
Blade Runner 2049 - VENCEDOR
A Hora Mais Negra
Dunkirk
A Forma da Água
Mudbound - As Lamas do Mississipi

Melhor Montagem
Baby Driver - Alta Velocidade
Dunkirk - VENCEDOR
Eu, Tonya
A Forma da Água
Três Cartazes à Beira da Estrada

Melhor Design de Produção
A Bela e o Monstro
Blade Runner 2049
Dunkirk
A Hora Mais Negra
A Forma da Água - VENCEDOR

Melhor Guarda-Roupa
A Bela e o Monstro
A Hora Mais Negra
A Forma da Água
Vitória & Abdul
Linha Fantasma - VENCEDOR

Melhor Caracterização
A Hora Mais Negra - VENCEDOR
Vitória & Abdul
Wonder - Encantador

Melhor Banda-Sonora
Carter Burwell - Três Cartazes à Beira da Estrada
Alexandre Desplat - A Forma da Água - VENCEDOR
Johnny Greenwood - Linha Fantasma
John Williams - Star Wars: Os Últimos Jedi
Hans Zimmer - Dunkirk

Melhor Canção Original
Mighty River - Mudbond - As Lamas do Mississipi
The Mistery of Love - Chama-me Pelo Teu Nome
Remember Me - Coco - VENCEDOR
Stand Up for Something - Marshall
This is Me - O Grande Showman

Melhores Efeitos Especiais
Blade Runner 2049 - VENCEDOR
Guardiões da Galáxia Vol. 2
Kong: Ilha da Caveira
Star Wars: Os Últimos Jedi
Planeta dos Macacos: A Guerra

Melhor Edição Sonora
Baby Driver - Alta Velocidade
Blade Runner 2049
Dunkirk - VENCEDOR
A Forma da Água
Star Wars: Os Últimos Jedi

Melhor Mistura Sonora
Baby Driver - Alta Velocidade
Blade Runner 2049
Dunkirk - VENCEDOR
A Forma da Água
Star Wars: Os Últimos Jedi

Melhor Documentário
Abacus: Small Enough to Jail
Olhares Lugares
Icarus - VENCEDOR
Last Men in Aleppo
Strong Island

Melhor Filme de Animação
The Boss Baby
Coco - VENCEDOR
A Paixão de Van Gogh
The Breadwinner
Ferdinando

Melhor Curta de Animação
Dear Basketball - VENCEDOR
Garden Party
LOU
Negative Space
Revolting Rhymes Part One

Melhor Filme em Língua Estrangeira
Uma Mulher Fantástica - VENCEDOR
The Insult
Loveless
Corpo e Alma
O Quadrado

Melhor Curta Documental
Edith + Eddie
Heaven is a trafic jam on the 405 - VENCEDOR
Heroin(e)
Knife Skills
Traffic Stop

Melhor Curta-metragem
DeKalb Elementary
The Eleven O’Clock
My Nephew Emmett
The Silent Child - VENCEDOR
Watu Wote: All Of Us

04/03/2018

Uma entre muitas Tonyas

Crítica: Eu, Tonya

2017



Em qualquer desporto ou modalidade de alta competição, sabe-se que infelizmente não é apenas o talento e a qualidade técnica que servem de base para ganhar medalhas ou troféus, mas também a imagem que as pessoas transmitem e aquilo que os media conseguem criar, sendo que tudo isso tem um impacto bastante forte numa pessoa, principalmente numa pessoa ainda adolescente, como foi o caso de Tonya.

Colocando a veracidade dos factos mostrados em "Eu, Tonya" de lado, vemos então um filme que demonstra com eficácia a forma como a paixão e o talento nato para uma determinada modalidade é algo que deve ser admirado, mas também que pode ser destruído por relações abusivas e por um sistema social onde prevalece a arrogância e a futilidade.

Imagem de "Eu, Tonya"

O grande destaque aqui vai sem dúvida para a personagem que dá nome ao filme, assim como para a actriz Margot Robbie, que tem uma prestação sublime e carregada de emoções diversas, mas que dão uma grande coerência à personagem e à sua evolução ao longo do filme.

A montagem e edição também adicionam um factor interessante ao filme e uma mais valia, contudo é difícil de não reparar nos efeitos especiais que estão medianos e que poderiam ter sido trabalhados de melhor forma, fazendo com que a audiência se distraia em algumas ocasiões.

Este é um filme bem conseguido, com um elenco muito bom, mas que retrata uma história dramática e triste, onde não ficamos com boas memórias. Não do filme em si, mas deste tipo de histórias, que infelizmente acontecem na realidade e que muitas delas não chegam sequer a ser conhecidas.

Mau | Meh | Bom

03/03/2018

5 perguntas rápidas a Fernando Vendrell...


Num formato de mini-entrevista, fomos fazer cinco perguntas ao realizador e produtor português Fernando Vendrell, que irá apresentar o seu mais recente filme "Aparição" no festival FESTin, a decorrer presentemente no Cinema São Jorge (Lisboa):

Qual foi o principal motivo que o levou a adaptar, nos dias de hoje, uma obra de Vergílio Ferreira para o cinema?

"Aparição" era um projeto que a produtora David & Golias desenvolvia desde 2005, trata-se de uma das obras mais relevantes da literatura portuguesa do século XX e um momento seminal na carreira do escritor Vergílio Ferreira. Como realizador procurei explorar as razões que nos anos 50 fizeram Vergílio Ferreira escrever este livro, para melhor tratar esta história decidi partir para Évora e filmar os temas e as atmosferas desse momento criativo. Considero as questões levantadas neste romance sobre a vida, a paixão e a morte como sendo temas verdadeiramente cinematográficos e suscetíveis de emocionar os espectadores de cinema.

Hoje em dia, entre o trabalho em Televisão e Cinema, onde sente que existe uma maior liberdade de produção em Portugal?

O tema “liberdade de produção” é algo irreal em qualquer país do mundo, no entanto acho que devo assumir essa pretensão ideal como autor/realizador e também através do trabalho criativo de produtor em Portugal. O facto de trabalhar um modelo de cinema narrativo artístico faz com que alguns projetos meus se possam enquadrar em programação televisiva, tornando-se produções viáveis enquanto séries de ficção, proporcionando uma maior liberdade temática e conceptual na minha obra de realização. Faço uma distinção objetiva nestes dois trabalhos criativos, mas considero que são complementares e que me obrigam a aperfeiçoar - técnica e artisticamente - o trabalho de realizador, aprofundando também o contacto entre mim e os espectadores.

Mais de 10 anos se passaram desde que realizou a sua última curta-metragem. Pretende voltar a realizar filmes neste formato?

Sim, claro que tenciono realizar outros projetos de curta-metragem. Durante esses 10 anos, muito duros e violentos, concorri sempre a todos os concursos do ICA, julgo que um número “significativo” de pessoas constituídas como jurados, não acharam relevante a minha obra de realizador. Durante esse período de “ausência” segui o conselho de grandes cineastas com quem privei e trabalhei, que jamais esquecerei: “Nunca desistir, persistir sempre!”.

Cerca de 20 anos se passaram entre "Fintar o Destino" (1998) e "Aparição" (2018). Quais os desafios actuais de realizar uma longa-metragem?

As possibilidades técnicas de produção de cinema democratizaram-se com o incremento do digital, há mais produção no “media” cinema e também mais perspectivas de circulação dos filmes.  No entanto, o trabalho numa longa metragem de cinema é muito exigente, necessita de uma profunda reflexão formal, uma abstração que a aproxime do pensamento humano.  Nem sempre as nossas obras estão em “sintonia” com o mercado, quer sejam os festivais de cinema ou a exibição comercial, o espaço para que uma obra cinematográfica seja fruída, parece ser cada vez mais exíguo e reduzido em contraponto com o da vulgarização tecnológica do audiovisual.

Aos 8 anos não conseguiu ir ao cinema ver "O Inimigo Público" de Woody Allen. Já conseguiu concretizar esse desejo? E se já o fez, o que achou do filme?

É uma vergonha, nunca vi esse filme até hoje... No entanto lembro-me visualmente de várias cenas desse filme, imaginadas a partir do que me contaram as minhas irmãs e os amigos que assistiram a essa sessão no dia do meu aniversário. Parece-me ainda interessante!

Bastidores das filmagens de "Aparição"