O nosso blogue foi entrevistar a realizadora portuguesa Margarida Madeira, que este ano apresenta a sua curta-metragem de animação "Dona Fúnfia - 1ª etapa da Volta a Portugal em Bicicleta" no Festival Olhares do Mediterrâneo, que se trata de um projecto piloto de uma série de 20.
A curta será exibida dia 2 de Outubro, às 14H30, no Cinema São Jorge.
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Imagem da curta "Dona Fúnfia - 1ª etapa da Volta a Portugal em Bicicleta" |
P: Olá Margarida, gostaria de lhe fazer uma primeira pergunta directa a um assunto complexo: quais são os desafios (se é que os há) de ser uma realizadora em Portugal?
MM: Ser realizadora e produtora em Portugal é um desafio com o qual ainda estou a aprender a lidar. Sem querer generalizar, mas generalizando, acho que ainda não se dá tanta importância à animação nem se tem uma consciência dos seus custos em comparação com países como França, Espanha ou Inglaterra. Talvez por isso as fontes de financiamento não abundem. Por outro lado, admito que é quando não as há que me sinto mais criativa. Saber gerir essa criatividade e sobreviver ao mesmo tempo é o meu maior desafio.
P: A curta que apresenta este ano teve o apoio do ICA. Sente que o ICA apoia de igual forma filmes de animação e filmes não animados?
MM: Sei que a fatia do bolo é maior para os filmes não animados mas também há um maior número de comensais. Quero acreditar que o apoio é proporcional.
P: Em 2015 obteve uma Menção Honrosa neste mesmo festival. Como é voltar a este festival um ano depois, após esta Menção?
MM: É sempre gratificante ver o meu trabalho reconhecido, seja por uma seleção ou uma premiação. Voltar a fazer parte do programa do Olhares é saber que o que faço continua a fazer sentido para as pessoas e isso motiva-me a continuar.
P: Fez um intercâmbio para a Polónia que lhe levou a aumentar o seu interesse pela animação de personagens. Como surgiu esta paixão?
MM: Na Polónia a presença da animação é muito forte. Antes de ir já gostava de animação mas não sabia que era isso a que me queria dedicar. Ao assistir e ao fazer parte daquele esforço e carinho que dedicam ao ensino da animação fiquei completamente apaixonada e decidi que era nessa área em que queria investir.
P: Fundou em Portugal uma produtora, a Pickle Films. Quais são os principais desafios de abrir uma produtora mais centrada para a animação, em Portugal?
MM: Para além de toda a parte burocrática de que é preciso tratar ao ter uma produtora, limitar a atividade à animação fecha muitas portas. É preciso uma procura constante de projetos e apoios para conseguir sobreviver. Por enquanto acho que não tenho outra escolha pois ainda me sinto a arrancar e tento focar-me naquilo que sei fazer melhor.
P: O estilo de animação utilizado em "Dona Fúnfia" é diferente, em parte, da curta "Dona Fúnfia - 1ª etapa da Volta a Portugal em Bicicleta". Algum motivo em especial?
MM: A curta Dona Fúnfia - 1ª etapa da Volta a Portugal em Bicicleta é um episódio piloto para um projeto de uma série de vinte. As escolhas técnicas foram feitas a pensar numa otimização de recursos já que recorrer à animação em 3D permite diminuir o custo e tempo da produção.
P: A Avó Teresa foi a grande inspiração para a personagem de Dona Fúnfia?
MM: A Avó Teresa emprestou a voz que narra a Dona Fúnfia mas ela não é a Dona Fúnfia, apesar de terem alguns pontos em comum como gostar de viajar e andar de bicicleta.
A Dona Fúnfia é uma personagem que faz parte do meu imaginário infantil inspirado em algumas pessoas e histórias com quem convivi durante essa época em Canas de Senhorim.
P: A Margarida participa em Oficinas de Animação. O quão importante é para si ensinar este "ofício" a outras pessoas?
MM: Para mim, o mais importante das oficinas é poder demonstrar dois aspetos: o primeiro é que a animação não é exclusivamente para crianças, é uma forma de expressão artística em que se pode conjugar a imagem e o som ao serviço da imaginação quase sem limitações, coisa que nem sempre é possível na imagem real; a segunda é que não é preciso saber desenhar para se fazer animação.
P: Por último Margarida, gostava de saber qual a recepção que espera do público este ano do Olhares do Mediterrâneo? E o que nos reserva para 2017?
MM: Eu gostava que o público do Olhares se divertisse com o primeiro episódio da série Dona Fúnfia - Volta a Portugal em Bicicleta e que ficasse curioso com o resto do projeto. Acho que isso seria encorajador para seguir em frente (literalmente) que no fundo é o que espero estar a fazer em 2017.