O festival FESTin decorre entre 01 a 08 de Março no Cinema São Jorge e no Instituto Cervantes, em Lisboa. O Festival de Cinema Itinerante da Língua Portuguesa (FESTin) traz novamente a produção cinematográfica dos nove países que compõem a comunidade dos países em língua portuguesa – Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné Equatorial, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste.
Num ano em que alguns dos seus eventos estão inseridos na programação da Lisboa 2017 - Capital Ibero-americana de Cultura e que encerra, justamente, no Dia Internacional da Mulher, as temáticas femininas estarão presentes tanto na programação cinematográfica quanto nos eventos paralelos. Estas aproveitam a rubrica do evento ibero-americano – Passado e Presente – para relacioná-lo às actividades que analisam o papel feminino no audiovisual.
Mariana Ximenes no FESTin
A atriz brasileira, presente em dois filmes da competição do FESTin, estará no Cinema São Jorge durante o festival. Não apenas um nome conhecido dos espectadores de telenovelas, Mariana Ximenes é uma das personalidades que mais investe em cinema alternativo no Brasil – vindo daí a participação num filme que co-produz (“Prova de Coragem”) e outro onde actua (“Quase Memória”) e que fazem parte da selecção principal.
No primeiro caso, trata-se da adaptação de um livro de Roberto Gervitz e conta a história de um casal, um médico e uma artista plástica presos entre o desafio do casamento, da proximidade do nascimento de um filho e as situações mal resolvidas no íntimo de cada um deles.
Já “Quase Memória” é um trabalho semi autobiográfico de um dos grandes nomes do Cinema Novo brasileiro, Ruy Guerra – que aqui desafia as regras narrativas e propõe um belíssimo estudo sobre a memória. O elenco principal inclui Tony Ramos.
Lisboa Capital Ibero-americana de Cultura: passado e presente
O FESTin foi um dos eventos culturais seleccionados para fazer parte da Lisboa Capital Ibero-americana de Cultura e aproveitou para acentuá-la no feminino. Entre as diversas actividades no Cinema São Jorge, estão previstos debates, mesas redondas, masterclasses e pelo menos três programações especiais de filmes.
Fazendo a devida ligação com as Américas, o festival vai exibir títulos da cinematografia latino-americana, para além de uma mostra especial, a realizar-se principalmente no Instituto Cervantes, de filmes de Titón (alcunha de Tomás Gutiérrez Alea), um dos mais prestigiados realizadores cubanos falecido em 1996. A sua viúva e protagonista de alguns dos seus filmes, Mirtha Ibarra, estará presente. A actriz foi responsável pelo documentário “Titón – de Habana a Guantanamera”, que também será exibido.
O papel feminino na história do audiovisual português é igualmente observado na mostra de alguns trabalhos da realizadora Margarida Gil. Nascida na Covilhã e com uma extensa carreira no cinema e na televisão, a cineasta terá exibido no São Jorge os seus filmes mais emblemáticos – caso de “Rosa Negra” (1992), que fez parte da competição no Festival de Locarno, “O Anjo da Guarda” (1998), “Adriana” (2004), “O Fantasma de Novais” (2012) e “Paixão” (2012).
Antestreias portuguesas
O festival terá a antestreia lisboeta de dois novos projetos portugueses. “Uma Vida à Espera”, é a terceira longa-metragem de Sérgio Graciano (de “Assim Assim” e “Njinga”) que afasta-se do formato mais acessível dos seus trabalhos anteriores para propor a imersão na vida de um sem-abrigo que perambula pelas ruas da capital à espera de uma carta que pode ou não chegar.
Enquanto Sérgio Graciano afasta-se do cinema de género, José Pedro Lopes investe num território pouco explorado no cinema português na sua primeira longa-metragem. “A Floresta das Almas Perdidas” aborda, com o selo de “filme de terror”, a experiência de dois personagens que se encontram num lugar para onde costumam ir os suicidas.
Temáticas lusófonas
No universo da lusofonia um dos destaques será a produção de Timor-Leste “Avô Crocodilo” – um documentário editado especialmente para o FESTin. O filme, com destaque para a bela fotografia, narra episódios de resistência à invasão indonésia.
Por seu lado “Deolinda” aborda um dos mitos da história angolana – uma enfermeira que largou uma vida estável para lutar pela liberdade do seu país.
Um dos mais belos filmes da programação do FESTin, “O Outro Lado do Paraíso” abre o festival com um drama social de contornos mais clássicos, narrando a história de uma família pobre que luta para se estabelecer numa Brasília em plena construção no início dos anos 60.
Andreia Horta, intérprete de Elis Regina, é outra presença no FESTin
Já “Elis”, um dos grandes sucessos do cinema brasileiro de 2016, é uma prenda para o Dia Internacional da Mulher, narrando a trajectória de um dos maiores ícones da Música Popular Brasileira (MPB), Elis Regina. A actriz Andreia Horta, que interpreta a cantora, foi uma das grandes revelações do cinema brasileiro do ano passado e virá a Lisboa para a sessão de encerramento.
Competição e FESTin Arte
A competição deste ano reforça o trajecto iniciado há dois anos no sentido de funcionar como uma mostra do que melhor em termos de cinema de autor se produz em territórios lusófonos. Para além dos filmes citados, completam a rúbrica obras como “Para Ter onde Ir”, que traz um road movie abordando as encruzilhadas de três mulheres sobre as belas paisagens do Pará, região amazónica brasileira, ou “Comeback”, protagonizado por um dos melhores actores do Brasil, Nélson Xavier (vencedor do prémio de Melhor Actor no FESTin 2015), a viver um assassino de aluguer retirado – num filme que apresenta o tema do crime a soldo num melancólico vai-e-vem próprio dos desafios da terceira idade.
Do polo mais criativo de inovações brasileiras, o estado de Pernambuco – que revelou, entre outros Kléber Mendonça, premiado em Cannes no ano passado – vem o ousadíssimo “Animal Político”, que narra com diálogos acutilantes, um ácido sentido de humor e pinceladas de surrealismo, a história de uma vaca em crise existencial. O filme estreou na secção Bright Future do Festival de Roterdão. Pelo seu carácter mais experimental, o projecto figura, junto a “Quase Memória”, na secção FESTin Arte.
Outro ilustre luminar de Pernambuco, o premiadíssimo Cláudio Assis (vencedor do prémio de Melhor Filme do FESTin em 2011 com “Febre do Rato”) surge com “Big Jato” – novamente trazendo rebeldia a rimar com poesia. Em outras paisagens, “BR 716” mergulha no espírito sessentista do Rio de Janeiro para lhe prestar um movimentado requiem.
Documentários
Entre os seis documentários em competição, o destaque é “Curumim”, filme que causou forte impacto no Festival de Berlim do ano passado, ao contar a história do brasileiro condenado à pena de morte por tráfico de drogas na Indonésia. Obtendo imagens filmadas no seu longo cativeiro pelo próprio biografado, Marcos Prado construiu um filme intenso.
Nesta secção também destaque para “Todos”, obra que personifica a vocação social do festival, ao trazer um trabalho que permite ser apreciado por uma audiência de deficientes auditivos e visuais.
Festinha
As sessões para os mais novos vão ter este ano a novidade da competição – incluindo um júri adulto e outro composto por crianças, que atribuirão uma Menção Honrosa a um dos dez filmes seleccionados.
Os bilhetes para o festival estarão à venda na bilheteira do Cinema São Jorge a partir de segunda-feira, dia 13 de Fevereiro, e são os seguintes:
3,00€ (bilhete normal)
2,50€ (até 25 anos e maiores de 65 anos)
1,50€ (estudantes e grupos de mais de 10 pessoas/preço por pessoa)
1,50€ (Mostra de Documentários/preço por sessão)
Sessões Festinha: 2€ (adultos) e 1€ (crianças até 12 anos)