26/11/2018

Um filme esmagador

Crítica: Cafarnaum

2018



Este é, sem dúvida alguma para mim, um dos melhores filmes dos últimos anos e, infelizmente, um dos filmes mais tristes e realistas, em que o ser humano deveria envergonhar-se somente pelo facto de este filme existir. Deveríamos todos viver num mundo onde histórias como esta nem passariam pela cabeça de ninguém que pudessem existir.

Eu próprio gostaria de não ter de escrever sobre um filme como este, mas a verdade é que filmes como este existem e são necessários, mesmo que choquem e deixem o público constrangido. A realidade é em parte feia e tem coisas horríveis.

Mas o que sobressai nesta narrativa não é somente todo o ambiente sujo e a desgraça de certas famílias e populações, mas sim a inteligência e instinto de sobrevivência de uma criança que tem uma garra e força incríveis, para além de uma coragem assombrosa que toca qualquer pessoa. Conseguimos perceber isso quando vemos essa mesma criança a processar os seus próprios pais porque estes não a deviam ter tido, isso mesmo. Porque não tinham as condições para a criar.

Imagem do filme "Cafarnaum"

Aplaudo também toda a equipa por trás deste filme, com destaque a todos, desde a realização, à fotografia, passando pela cenografia, actores, produção, enfim, nota-se que toda a equipa deu o seu melhor e conseguiu criar um ambiente e uma envolvência que são esmagadores e que mantêm-se coerentes ao longo de todo o filme.

Esta é uma obra indispensável e que merece todo e qualquer prémio e/ou menções, pois num mundo onde a maioria dos filmes que chegam às salas de cinema não conseguem trazer realidade humana para o ecrã, ou têm muito pouca, Cafarnaum destaca-se a milhas.

Mau | Meh | Bom

07/11/2018

Um artista único

Crítica: Bohemian Rhapsody

2018



Já é do conhecimento comum que quando um artista chega a um nível elevado de fama e reconhecimento a nível mundial, como é o caso dos Queen e de Freddie Mercury, é inevitável haverem mil e uma teorias sobre as suas vidas pessoais, histórias contadas e recontadas de diversas formas e feitios, contudo uma coisa é sempre certa e transversal: o seu talento.

Neste filme conseguimos ter uma percepção geral sobre a vida e carreira de Freddie Mercury, de uma forma muito 'politicamente correcta', contudo é um filme que tenta apenas apresentar os pontos principais e relevantes, nunca indo a certos pormenores ou períodos específicos, e ao tentar apresentar uma visão geral consegue fazê-lo e apresenta ao público um filme interessante.

Rami Malek numa cena de "Bohemian Rhapsody"

Já seria também de esperar que todo o filme recaia em muito na personagem principal e na performance do actor Rami Malek (da série "Mr. Robot"). Isso é verdade, e o actor está mais que à altura deste desafio, e tem aqui uma actuação muito bem trabalhada e está de parabéns. Não me espantaria nada que daqui saia uma nomeação para Melhor Actor na próxima cerimónia dos Óscares.

No final das contas temos um filme biográfico que consegue entreter e mostrar de forma pouco pretensiosa como funciona uma parte dos bastidores do mundo da música e da fama, situações às quais a maioria das pessoas não se encontra exposta e provavelmente nunca estará. Um filme interessante que não se destina apenas aos fãs de Queen.

Mau | Meh | Bom

29/10/2018

Quem vence a batalha nas bilheteiras? Marvel ou DC?



Vamos soltar já aqui a bomba, em forma de números que nos mostram quem, de facto, consegue atrair mais fãs de BD ao cinema, e tentaremos analisar o porquê destes mesmos números, se existem personagens e super-heróis que suscitam maior interesse ou menos, e se o marketing tem um peso forte, entre outros factores.

Top 10 das adaptações de BD com maiores rendimentos de bilheteiras no mundo (valores em biliões de dólares):

1 - Avengers: Infinity War - 2,046
2 - Marvel's The Avengers - 1,518
3 - Avengers: Age of Ultron - 1,405
4 - Black Panther - 1,346
5 - Iron Man 3 - 1,214
6 - Captain America: Civil War - 1,153
7 - The Dark Knight Rises - 1,084
8 - The Dark Knight - 1,004
9 - Spider-Man 3 - 0,890
10 - Spider-Man: Homecoming - 0,880

Ah pois é, parece que esta guerra tem sido ganha com uma valente margem ao longo dos anos pela Marvel! É também surpreendente que a DC apenas tenha 2 filmes neste Top 10, sendo ambos do mesmo franchise, e o último estreado em 2012 (The Dark Knight Rises).

Muitos pensarão, então e onde estão filmes da DC mais recentes como Batman VS Superman, Wonder Woman ou Justice League? Alguns destes títulos foram sucessos de bilheteiras, nomeadamente Wonder Woman, mas um sucesso muito focado nos EUA, e não esquecer que estamos aqui a falar de valores mundiais.

O facto de todo o Top 3 pertencer à Marvel, e mais precisamente ao franchise dos "Avengers", faz-me acreditar que, por um lado, não só os filmes com equipas de super-heróis conseguem chamar mais a atenção do público e levar mais espectadores às salas e, por outro lado, não o conseguem sem uma boa estratégia de lançamento e de 'build-up' para conseguirem atingir números de receitas brutais. E digo isto também pela falta neste Top do filme da rival DC que segue esta linha de equipas de super-heróis, Justice League (ou mesmo Suicide Squad).

Um dos motivos que penso estar por detrás destes números, é o facto de que os lançamentos dos filmes individuais dos super-heróis da Marvel terem sido realizados de forma espaçada, mesmo com mais ou menos sucesso, e aquando da chegada do primeiro Avengers ao grande ecrã, já o público estava familiarizado com a maioria das personagens, e não se sentiu que fosse um lançamento 'à pressa'.

Já no caso da Justice League, por exemplo, o filme foi lançado no mesmo ano que Wonder Woman (não havendo muito tempo/espaço entre o lançamento de ambos os filmes) e anteriormente o público ainda não tinha sequer um filme recente a solo da maioria dos membros da equipa como Cyborg, Aquaman, Flash, e nem mesmo um filme a solo do novo Batman, com Ben Affleck como protagonista. Também não ajuda nada à festa o facto de nenhum desses filmes a solo da DC estarem representados neste Top, estando somente dois filmes da saga Batman do realizador Christopher Nolan.

Claro que tudo isto não passa somente da minha opinião e teoria, sendo que existem outros factores que contribuem para estas diferenças, como o ambiente cinematográfico que foi sendo desenvolvido na Marvel (mais colorido, leve e divertido) em oposto com o da DC (mais 'dark' e sério), o que influenciará sem dúvida o público com todos os materiais promocionais que são lançados.

E daqui para a frente, como será? A Marvel irá certamente continuar a apostar nos seus títulos 'vencedores' (Avengers, Black Panther) assim como investir em novas adaptações, por forma a ver quais serão os novos heróis 'galinhas dos ovos de ouro' que podem criar. Quanto à DC, julgo que terá de rever a forma como investirá em novas adaptações, na forma como traz novos heróis da BD para o Cinema, e também como consegue gerir os seus filmes mais recentes, apostando sem dúvida nos que tiveram mais sucesso e tentar arranjar a sua própria 'fórmula de sucesso'.

16/10/2018

Assim nasce uma boa adaptação

Crítica: Assim Nasce Uma Estrela

2018



Para os mais desprevenidos fica desde já a nota: este não é o primeiro filme a dar luz a 'estrelas', e suspeito que não será também o último. "Assim Nasce Uma Estrela" relata uma história que já foi anteriormente adaptada ao grande ecrã, mas que continua a ser readaptada e recontada, atravessando gerações e sempre com um toque diferente ou novo, mantendo sempre um impacto cultural, e isso é de louvar. Esta é uma boa forma de se distinguir as histórias realmente humanas (e que nos marcam) daquelas que caem no esquecimento com o passar dos anos.

Num misto de musical, romance e drama, conseguimos aqui assistir à ascensão de uma estrela que começa a brilhar, e a queda de uma estrela que já teve o seu tempo para brilhar. Talvez seja essa diferença entre as duas personagens principais desta história que continua a ser um elo de ligação forte ao público das mais diversas origens e idades.

Bradley Cooper e Lady Gaga em "Assim Nasce Uma Estrela"

Os elementos principais desta adaptação estão bem conjugados e cada um consegue dar ao filme aquilo que ele precisa, desde o elenco, com maior destaque claro para Bradley Cooper e Lady Gaga, passando pela música em si, as sequências musicais, a fotografia, até ao movimento das câmeras e dos planos apresentados.

Claro que existem aqui partes que 'gritam' a palavra cliché, mas isso já seria de esperar, e também não haveria muita forma de contornar isso. Mas o facto de que cada elemento, que contribuiu para este filme, ter feito um bom trabalho, faz com que o espectador consiga ultrapassar essas falhas e ter uma experiência positiva.

Mau | Meh | Bom

11/10/2018

A Outra e os Outros, e as Outras...

Crítica: A Outra...

2018



Em qualquer comédia romântica tem de existir pelo menos um casal, um drama importante entre eles, e também um reencontro emocionante. Sem isto não é possível este género existir, e este filme é "outra" prova viva que este género continua a existir, com todos os clichés a que nos habituámos, e ainda mais.

Aqui o foco não está apenas num único casal mas, admirem-se, em dois casais que se encontram em situações semelhantes (ou será que não?), contudo as situações cómicas que se geram através deste argumento conseguem compensar no final, e muito se deve à forma como a história é contada, entre sonhos e avanços no tempo, que por vezes nem nos damos conta e isso consegue surpreender de forma positiva o público.

Imagem do filme "A Outra..."

A actuação de todo o elenco (praticamente apenas quatro actores), é boa e eficaz nos momentos chave do filme, contudo todo o esforço aqui apresentado não consegue mesmo assim evitar cair em diversos clichés cinematográficos, e especificamente deste género. Contudo é sempre positivo haver um filme hoje em dia que tenta fugir a algumas regras já banalizadas, e que consegue ainda, sem ser de forma forçada, arrancar gargalhadas e fazer-nos sorrir.

Mau | Meh | Bom

'Johnny English Volta a Atacar' nas bilheteiras


Rowan Atkinson, que está de volta ao papel de agente secreto acidental mais “famoso” do mundo em ‘Johnny English Volta a Atacar’, já levou mais de 88 mil espectadores aos cinemas nacionais deste a estreia a 4 de Outubro.

A terceira aventura da saga cómica “Johnny English”, realizada por David Kerre, começa quando um ataque cibernético revela a identidade de todos os agentes secretos britânicos no ativo, deixando Johnny English (Rowan Atkinson) como   a última   esperança   dos   serviços   secretos. Johnny English, com algumas capacidades e métodos analógicos, tem que superar os desafios da tecnologia moderna para ter sucesso nesta missão.

Ben Miller (‘Paddington 2’), Olga Kurylenko (‘007: Quantum of Solace’), Emma Thompson (‘O Bebé de Bridget Jones’) e Jake Lacy (‘Miss Sloane – Uma Mulher de Armas’) também fazem parte deste elenco.

05/09/2018

Desconstruir o mau do bom racismo?

Crítica: BlacKkKlansman - O Infiltrado

2018



O que raio interessa a cor da pele, as crenças de cada um, os gostos e estilos que cada pessoa tem, para o bem da humanidade e para a evolução do ser humano? Racionalmente... nada, mesmo nada de nada. No entanto na prática é tudo muito diferente, e a realidade é muito mais negra e triste do que aquilo em que por vezes queremos acreditar, e este filme, "BlacKkKlansman", mostra-nos isso de uma forma muito justa e clara. Tão forte e 'in your face', que nos faz rir e emocionar sobre o mesmo tema, e por vezes acharmos que uma situação é ridícula, no entanto situações como as que vimos  aqui existem na nossa sociedade, e mais vezes do que pensamos.

O realizador Spike Lee consegue criar uma obra que não pretende mostrar uma balança desequilibrada no que toca ao tema do racismo e outros, e mostra ao público os dois lados da moeda, os dois pesos de forma equilibrada e justa, deixando que seja o espectador a julgar por si mesmo e a não ser empurrado para uma opinião já pré-concebida ou criada. Isto é algo muito arriscado de se fazer num filme, no entanto foi conseguido aqui, e por isso Spike Lee está de parabéns.

Imagem de "BlacKkKlansman - O Infiltrado"

Por muito que se julgue que se pertence ao 'lado bom' da balança, se nesse 'lado' existirem sentimentos de ódio contra outras pessoas, então é porque esse 'lado bom' não é com certeza o melhor, mas essa discussão envolve muitos outros factores e situações específicas, sendo que este filme deixa-nos a pensar nisso no mínimo.

Gostaria de deixar aqui um destaque para a prestação do actor Adam Driver, que num papel que não parece ser muito exigente, consegue criar uma actuação forte e certeira para a sua personagem. Este é sem dúvida um filme forte e que nos dá um 'soco no estômago', mas que aconselho vivamente a todos, e que sirva não só para entreter como também para sensibilizar as pessoas de um modo geral. É um dos filmes do ano e um dos melhores de Spike Lee.

Mau | Meh | Bom