31/05/2018

Ilha dos Cães ou Prisão Canina?

Crítica: Ilha dos Cães

2018


Poster de "Ilha dos Cães"

Não existem muitos realizadores ou realizadoras que conseguem ter um estilo muito próprio e demarcado do restante universo cinematográfico, mas Wes Anderson é sem dúvida um deles, e esta sua "Ilha dos Cães" é mais uma obra que segue a sua linha muito única de contar e mostrar uma história, e é também sem dúvida uma boa adição à sua filmografia.

Para quem já conhece o histórico deste realizador não vai ficar espantado com esta narrativa nem com este estilo de animação, uma vez que já não é a primeira vez (e não deverá ser a última) que Wes Anderson realiza um filme animado com recurso a 'puppets', ou que utiliza esta técnica em outros filmes.

Imagem de "Ilha dos Cães"

São diversas as analogias que a história explorada nesta "Ilha dos Cães" traz à baila, e que são intemporais, mas que se enquadram também bastante bem na situação actual das sociedades mais modernas. Talvez falte aqui um pouco mais de dinâmica ou de ambição na apresentação de certas temáticas, contudo não deixa de ser algo com que nos conseguimos identificar ou inserir.

Estamos perante um bom filme ao estilo de Anderson, e para quem não conhece este realizador, ou a sua obra, tem aqui uma boa porta de entrada para o seu mundo cinematográfico que consegue ser tão fascinante.

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29/05/2018

Uma escolha impossível, muito Kubrickiana

Crítica: O Sacrifício de Um Cervo Sagrado

2017


Poster de "O Sacrifício de Um Cervo Sagrado"

A estrutura de um filme cujo título é (tradução literal) "O Sacrifício de Um Cervo Sagrado" poderá não ser a mais comum de todas. E esta afirmação é correcta. Contudo não deixa de ser uma estrutura cinematográfica única e que mantém o interesse do público de uma forma que pode incomodar, mas que ao mesmo tempo atrai e é magnética.

Para quem já conhece o estilo e o trabalho do realizador Yorgos Lanthimos, então este tipo de narrativa pode já não ser nenhuma novidade, mas isso não significa que não deixa de surpreender e de deixar a sua marca após os créditos finais.

Imagem de "O Sacrifício de Um Cervo Sagrado"

Com um estilo muito Kubrickiano, toda a estética e a componente visual deste filme estão pensadas ao pormenor e toda a equipa consegue aqui criar um ambiente quase inexistente numa sociedade actual, mas que no entanto encontra-se presente no dia-a-dia de muitas classes sociais.

A utilização do suspense em harmonia com uma banda-sonora avassaladora criam ainda um maior impacto do que aquele que a história em si já tem consigo, e a envolvência com o espectador é ainda mais intrigante. Todo o elenco está também de parabéns, com interpretações muito coesas e que se enquadram em toda a ambiência criada, com destaque principalmente para todo o elenco jovem/infantil e para a actriz Nicole Kidman.

Mau | Meh | Bom

27/05/2018

Boas sequelas? Sim, existem!

Crítica: Deadpool 2

2018


Poster de "Deadpool 2"

As sequelas são normalmente filmes ora muito desejados ora muito odiados, pois o público quer bastante ver a continuação da história anterior mas cria também expectativas elevadas e caso essas mesmas expectativas não sejam satisfeitas então temos um problema. Mas não é isso que se passa aqui.

No caso de Deadpool 2 as expectativas são satisfeitas e atrevo-me até a dizer que são superadas, sendo que este filme consegue ser ainda mais atrevido que o primeiro e isso surpreende o público, mesmo para uma pessoa que já sabe ao que vai, e isso não é comum de se ver numa sequela. É caso para dizermos: que venha o terceiro.

Imagem de "Deadpool 2"

Com personagens secundárias que já conhecíamos anteriormente, mas também com novas caras à mistura, passamos a conhecer um pouco mais sobre o mundo que rodeia Deadpool e uma faceta mais séria desta personagem, mas onde não faltam os momentos cómicos e outros tantos WTF (What The Fuck?), sendo que o risco é maior mas compensa. Estamos perante um Deadpool mais adulto? Nem tanto assim, como seria de esperar.

A estrutura aqui utilizada é similar à utilizada no primeiro filme, e isso faz bastante sentido, por forma a não desvirtuar o estilo do primeiro filme, mas em algumas partes sentimos alguma previsibilidade nesta continuação, mas nada que se sobreponha às novidades que são aqui apresentadas. Para quem é fã do primeiro filme (como eu), não vai ficar desapontado com esta sequela.

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20/05/2018

Um soldado como poucos

Crítica: Soldado Milhões

2018


Poster de "Soldado Milhões"

Um pedaço da história portuguesa durante a Primeira Guerra Mundial é retratado neste "Soldado Milhões", um filme que consegue representar de forma bastante realista uma época e uma sociedade portuguesa, e concretiza tudo isso através de uma estética e imagem com bastante qualidade técnica, servindo este filme quase como que uma prova daquilo que o cinema português é capaz de produzir nos dias de hoje.

A narrativa aqui apresentada encontra-se dividida em duas partes e duas épocas, num jogo narrativo que vai saltando de uma história para a outra de forma sucessiva, e que já vimos em tantos outros filmes, contudo sentimos que aqui esta opção narrativa talvez não tenha sido a melhor, pois uma das narrativas sobrepõe-se à outra e vê-se que a balança não fica aqui equilibrada.

Imagem de "Soldado Milhões"

Como a parte do argumento não consegue ser tão ambiciosa como algumas cenas e sequências mais bélicas que assistimos ao longo do filme, fica-se com um sentimento misto e com um pouco de pena que esta história não tenha sido contada de forma mais entusiasmante, pois toda a componente técnica e todo o elenco estão de parabéns pelo trabalho realizado, mas é difícil de nos desprendermos do guião.

Porém, este tipo de filmes portugueses devem de ser financiados e motivados a serem realizados e a contarem histórias portuguesas como esta e que possam de forma mais massiva levar o público português a ir às salas de cinema ver cinema falado e realizado em português.

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04/05/2018

Silêncio que se vai ver um filme...

Crítica: Um Lugar Silencioso
2018


O género cinematográfico mais mainstream ligado ao suspense e terror, tem mostrado nos últimos tempos que consegue ainda surpreender o público, principalmente quando traz uma temática nova ou uma abordagem diferente. Veja-se por exemplo o caso do filme "Foge" (Get Out), que sendo um filme dentro deste mesmo género conseguiu ser um sucesso a nível de bilheteira e junto da crítica mundial, tendo inclusivamente arrecadado 4 nomeações aos Óscares e ganho uma estatueta (Melhor Argumento Original).

Este "Lugar Silencioso" segue em boa parte a fórmula utilizada no filme "Foge", mas de uma forma menos pretensiosa e mais interessante, a meu ver. Aqui o componente 'medo' é construído com o tempo certo, agarrando o espectador na história principal, e não envolvendo outras narrativas paralelas que pudessem servir de distracção.

Outro atractivo que encontramos aqui é a forma como é utilizado o som e a banda-sonora, sendo que o factor auditivo é um dos mais importantes para criar tensão nos filmes deste género, e neste filme o papel do som ganha ainda mais força e destaque, pois o ruído e o barulho é em si aquilo que representa o perigo e o receio neste "Lugar Silencioso".

Imagem de "Um Lugar Silencioso"

Através de uma narrativa simples e eficaz, este filme tem todos os ingredientes que o género pede, e consegue fazer uma receita interessante e deixar a sua marca dentro do seu estilo, numa lógica de presa / predador que também não é por vezes bem explorada em outros filmes recentes.

Aconselho este 'Lugar Silencioso' ao público mais destemido e que tenha também vontade de fazer aquele tipo de perguntas após um filme destes: e se fosse eu, o que faria naquele lugar?

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02/04/2018

Spielberg a provocar nerdgasms?

Crítica: Ready Player One - Jogador 1

2018



Este é um filme para um público muito específico, sejamos "realistas". Pode-se dizer que aqueles que não estão muito virados para o mundo dos videojogos e da cultura do gaming, não vão achar grande piada a este "Jogador 1", a não ser pelos efeitos especiais, e muito possivelmente não vão entender muitas referências, ou até mesmo a mensagem principal que este "Ready Player One" pretende transmitir.

Numa linha narrativa à la Steven Spielberg (que dá aqui uns pequenos toques, a nível do género narrativo, a "A.I. Inteligência Artificial"), estamos perante um bom filme de ficção científica que tem muitas pontes com o mundo actual, e que detém em si uma mensagem social que está muito vincada nos dias de hoje, e nos efeitos que o gaming e a cultura do 'ecrã' e das ligações, redes sociais, etc, começam a ter na nossa sociedade.

Num mundo onde os termos 'youtuber', 'nerd', 'gaming', 'VR', etc, começam a ser normais e a ganhar força no discurso do dia-a-dia, então é também um mundo onde filmes como este fazem parte e a indústria cinematográfica começa a perceber isso.

Imagem de "Ready Player One - Jogador 1"

Com um estilo de narrativa muito juvenil e prático, a história em "Ready Player One" apresenta uma moral forte e interessante, que consegue envolver o espectador e não transformar este filme apenas numa confusão de efeitos especiais e CGI.

Vê-se que Spielberg é como um peixe dentro de água neste género de cinema, e o seu gosto por este estilo é transmitido ao público. E isso é sempre um bom sinal. Para além da história e a sua moral, um outro destaque vai certamente para os efeitos especiais bem concretizados e adequados ao estilo de imagem que se vê ao longo do filme.

Aconselho este filme a todos os 'gamers' e amantes deste género, e a todos aqueles que não estão ainda familiarizados com estes termos, porque se não estão, é altura de fazerem um 'upgrade' social.

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26/03/2018

Uma Maria pouco Maria-Rapaz

Crítica: Maria Madalena

2018


Poster de "Maria Madalena"

Oh não, outro filme religioso? Pois, parece que sim. Ah, mas este traz uma perspectiva feminina e isso muda tudo, não? Pois, parece que infelizmente não. É verdade que o foco aqui é a personagem de Maria Madalena, e a sua perspectiva e papel em toda a história, mas essa história já foi mais que contada e vista, e aqui temos mais do mesmo.

As actuações e a realização cumprem aqui o seu trabalho, mas não deixam de ser peças monótonas para uma narrativa já muito divulgada, não trazendo aqui algo de diferente e desafiador, que faça com que o público fique emocionado ou deslumbrado.

Imagem de "Maria Madalena"

Tecnicamente é um filme decente, o que já seria de esperar para um filme mainstream deste tipo, no entanto destaca-se o trabalho de fotografia que consegue criar um ambiente muito próprio e coerente ao longo do filme, em que ficamos realmente deslumbrados com certas imagens e planos.

Este é um filme religioso típico, para um público religioso, mas que acredito plenamente que nem a esse público conseguirá deslumbrar ou entusiasmar, como fez o filme "A Paixão de Cristo" de Mel Gibson, por exemplo. Poderia-se ter arriscado muito mais aqui.

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