O Museu do Oriente associa-se ao DocLisboa e apresenta, todos os domingos de Fevereiro - dias 3, 10, 17 e 24, às 17h00, cinco filmes directamente relacionados com as grandes transformações geopolíticas da modernidade. A entrada é livre e todas as sessões serão apresentadas por programadores do Doclisboa, seguindo-se uma conversa com o público.
Em estreia nacional, “City of Jade” (Midi Z, Taiwan/Birmânia, 2016, 99’), no dia 3 de Fevereiro, centra-se na história pessoal do realizador Midi Z. Quando tinha apenas cinco anos, o seu irmão mais velho, então com 16, abandonou a família. Surgiram rumores de que haveria encontrado tesouros na mítica “Cidade do Jade”. Só o voltou a ver anos depois, afinal um homem pobre e viciado em ópio. Anos passaram, o realizador sai da escola de cinema em Taiwan, e o irmão é libertado da prisão de Mandalay. Fraco, mas ainda agarrado à esperança de encontrar uma grande pedra de jade e ficar rico do dia para a noite, decide voltar para as minas, como inúmeros outros no estado de Kachin, na fronteira da Birmânia com a China, um lugar devastado pela guerra. Midi Z seguiu-o. Este é um lugar onde heróis, aventureiros e almas desesperadas vivem, escavam, e buscam o jade, perseguidos pelos militares, doentes de malária, com o ópio como consolo na sua furiosa busca do grande tesouro.
“The Great North Korean Picture Show” (James Leong e Lynn Lee, Singapura, 2012, 93’) é apresentado no dia 10 e retrata o poder da indústria cinematográfica norte-coreana, uma ferramenta crucial na maquinaria de propaganda do regime. Pela primeira vez, realizadores estrangeiros puderam entrar na única escola de cinema do país - uma instituição de elite, onde jovens talentos são treinados para criar obras, não apenas para entreter, mas para ajudar a moldar a psique de uma nação inteira, construindo assim, pelo cinema, a auto-representação de um país e de um povo.
A 17 de Fevereiro o Museu do Oriente apresenta uma dupla sessão com “Ismyrna” e “Dis-Moi”. “Ismyrna” (Joana Hadjithomas e Khalil Joreige, Líbano/França/EAU, 2016, 50’) é sobre a história de Joana Hadjithomas e da poetisa Etel Adnan, que se conheceram há 15 anos. Rapidamente se tornaram próximas, pela partilha de uma cidade onde nunca estiveram: Esmirna, na Turquia. As suas histórias pessoais, as imagens que possuem e as remetem para esse lugar de um passado seu, mas onde nunca estiveram, dão-nos o pano de fundo para as mudanças na região após a queda do Império Otomano. “Dis-Moi” (Chantal Akerman, França, 1982, 45’) é um documentário realizado no quadro de uma série de televisão sobre avós. A realizadora visita três mulheres idosas de ascendência judia e pede-lhes que lhe falem das suas avós. Sentadas nas suas salas de estar, filmadas em planos fixos, um mundo inteiro desaparecido em campos de concentração regressa à vida nas suas palavras.
No último domingo do mês, “Once I Entered a Garden” (Avi Mograbi, França/Israel/Suíça, 2012, 97’) fantasia um Velho Médio Oriente, em que as comunidades não se dividiam étnica ou religiosamente, em que nem as fronteiras metafóricas tinham lugar. Na aventura conjunta de Ali e Avi, na viagem que empreendem às próprias histórias partilhadas, o Médio Oriente de outrora - aquele em que podiam coexistir sem esforço - ressurge facilmente.
Da emigração para novos ‘El Dorado’, à construção de um país simbólico através de uma indústria de cinema, das cidades de pertença onde nunca se foi, às memórias de lugares que já não podem ser encontrados, esta programação centra-se em filmes que nascem de um duplo movimento: a transmissão de histórias, mitos e desejos, associada à territorialidade e à imaginação, através do cinema.
Programa:
3 Fevereiro
CITY OF JADE
Midi Z, Taiwan/Birmânia, 2016, 99’
10 Fevereiro
THE GREAT NORTH KOREAN PICTURE SHOW
James Leong e Lynn Lee, Singapura, 2012, 93’
17 Fevereiro
ISMYRNA
Joana Hadjithomas e Khalil Joreige, Líbano/França/EAU, 2016, 50’
DIS-MOI
Chantal Akerman, França, 1982, 45’
24 Fevereiro
ONCE I ENTERED A GARDEN
Avi Mograbi, França/Israel/Suíça, 2012, 97’